Dieta Lowcarb no controle da diabetes: 12 evidências
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Dieta Lowcarb no controle da diabetes: 12 evidências



Pesquisando sobre as doenças crônicas no PUBMED me deparei com um artigo que saiu na edição de Janeiro de 2015 da Nutrition Journal, uma publicação da Elsevier. O jornal é fonte de autoridade para algumas federações de Nutrição, como a Japonesa (reconhecidamente anos à frente em orientações baseadas em evidências).

O artigo tem o título de:

Restrição de carboidratos na dieta como a
primeira abordagem no controle do diabetes:
Revisão crítica e base de evidência
(Dietary carbohydrate restriction as the first approach in diabetes management:
Critical review and evidence base)

O mesmo pode ser encontrado, em sua totalidade, no Nutrition Journal.



Resumo

O abstract diz o seguinte:

Agora em português:
A incapacidade das recomendações atuais para controlar a epidemia de diabetes, a falha específica das dietas de baixa gordura predominantes para melhorar a obesidade, risco cardiovascular ou a saúde geral e os relatos persistentes de alguns efeitos secundários graves de medicamentos para a diabetes comumente prescritos, em combinação com a continuação do sucesso das dietas lowcarb (pobres em carboidratos) no tratamento da diabetes e síndrome metabólica sem efeitos colaterais significativos apontam para a necessidade de uma reavaliação das orientações nutricionais. Os benefícios da restrição de carboidratos em diabetes são imediatos e bem documentada. Preocupações sobre a eficácia e segurança caem sobre os efeitos conjecturais e de longo prazo, em vez de evidências. A restrição alimentar de carboidratos reduz de maneira confiável a glicose elevada no sangue, não requer a perda de peso (embora ainda seja melhor para a perda de peso) e leva à redução ou eliminação da medicação. A dieta nunca mostrou efeitos colaterais comparáveis aos observados em muitas das drogas para a doença. Aqui apresentamos 12 pontos de evidência que sustentam o uso de dietas de baixo carboidrato (lowcarb) como a primeira abordagem para o tratamento de diabetes tipo 2 e como o complemento mais eficaz no tratamento de diabetes tipo 1. A dieta apresenta os resultados mais documentados e menos controversos. A insistência em ensaios clínicos randomizados de longo prazo como o único tipo de dados que serão aceitos é sem precedentes na ciência. A gravidade da diabetes requer que avaliemos todas as evidências que estão disponíveis. Os 12 pontos são suficientemente convincentes de que nós sentimos que o ônus da prova recai agora sobre aqueles que se opõem à esta orientação nutricional.

Sem nos deter em todas as questões levantadas, vou priorizar neste post a apresentação dos 12 pontos de evidência e as conclusões, e recomendações, que os autores chegaram. Mas antes disso vale a pena ressaltar o que um dos co-autores disse acerca de suas descobertas:

No final de um dia de trabalho, nós vamos para casa pensando: "As melhorias clínicas são tão grandes e óbvias, por que outros médicos não a compreendem ?" Restrição de carboidratos é facilmente compreendida pelos pacientes: Porque carboidratos na dieta elevam a glicose no sangue, e como a diabetes é definida pela glicose sanguínea elevada, faz sentido reduzir os hidratos de carbono da dieta . Ao reduzir o carboidrato na dieta, temos sido capazes de eliminar até 150 unidades de insulina em apenas 8 dias, com melhoria acentuada no controle glicêmico, alcançando até mesmo normalização dos níveis de glicemia*.
Eric Westman, MD
* nota particular: reversão completa do quadro de diabetes

Eric Westman, MD já vem estudando a restrição de carboidratos para controle e reversão da diabete tipo 2 há mais de 12 anos; é autor de diversos artigos, em especial um muito interessante sobre diabetes e restrição a carboidratos: Has carbohydrate-restriction been forgotten as a treatment for diabetes mellitus? A perspective on the ACCORD study design. Leitura muito relevante !


Autoria

Antes de mais nada, é importante se entender quem são os homens e mulheres, cientistas, professores, nutricionistas e demais profissionais que assinam o artigo; na próprio PUBMED podemos obter estes dados:

As evidências são tantas que cada vez tem sido mais comum a interdisciplinariedade dos autores para reverter a dificuldade em sociedades do coração, associações para a diabetes, associações de nutrição e outras entidades que tem refutado há mais de 15 anos estas evidências. Em todas elas é claro o envolvimento de questões muito maiores que a preocupação com a saúde daqueles que buscam estas associações para orientação (ou simplesmente sobrevivência). Se você quiser pesquisar um pouco mais sobre o assunto, pode começar pelos talks do Tim Noakes e outros que tem tentado trazer razão às associações do qual fazem parte ou tem influência. A luta é grande, mas até mesmo grandes publicações americanas DEIXARAM de demonizar a gordura e a considerar uma dieta com baixo consumo de carboidrato; e isto já começou a acontecer aqui no Brasil desde 2012, mas como eu disse, a luta é ferrenha. Estamos falando de uma indústria que movimenta dezenas de bilhões de dólares, e isto só no âmbito das indústrias alimentícias e farmacêuticas.

Se você observar rapidamente (porque não é minha intenção avaliar o currículo de cada um dos co-autores) verá que estamos observando um esforço globalizado (integrantes de: EUA, Suécia, Escócia, Kuwait, Canada, Alemanha e Dinamarca) de várias especialidades, dentre elas:

Voltando ao artigo...



Evidências

1. A hiperglicemia é a característica mais marcante da diabetes. A restrição de carboidratos tem o maior efeito sobre a diminuição dos níveis de glicose no sangue


Em um estudo que durou 24 semanas, 2 tipos de dietas foram aplicadas em 2 grupos de pessoas: diabéticas (quadradinhos) e normais (círculos); uma foi a dieta com baixa ingestão de calorias (Low-Cal) e outra dieta com baixo carboidrato (VLCKD - entre 20g e 50g de carbs/dia).


O resultado observado foi que tanto a glicose sanguínea quanto o marcador de hemoglobina glicosilada (HbA1c) foram significantemente melhoradas com a dieta com restrição de carboidratos em relação à de baixas calorias, que não conseguiu reduzir os níveis o suficiente; e os autores ainda chamam a atenção que após a 16a semana houve um leve aumento na glicose sanguínea na dieta de baixas calorias.


2. Durante as epidemias de obesidade e diabetes tipo 2, o aumento calórico teve origem, quase inteiramente, no aumento dos carboidratos na dieta

Os dados levantados pelo inquérito NHANES do CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção) Norte Americano apontam que, desde a década de 80, o macronutriente que teve maior impacto no aumento calórico da dieta da população foi advinda do carboidrato.


Neste ponto do artigo, vale citar uma nota em que os autores afirmam que:
"Seja qual for a extensão em que a correlação entre o consumo de carboidratos e a diabetes é de causalidade, a ausência de associação entre os níveis de gordura na dieta e diabetes em seres humanos é de real significado. A falta de associação é geralmente considerada uma forte evidência para a falta de causalidade."


3. Benefícios da restrição de carboidratos na dieta não necessitam de perda de peso

Ainda que atualmente a dieta com restrição de carboidratos seja muito badalada para perda de peso, os autores chamam a atenção de que nem todos os diabéticos são magros e muitos obesos podem jamais vir a desenvolver diabetes tipo 2.

Os efeitos no controle glicêmico em uma dieta lowcarb não estão relacionadas à perda de peso !


4. Embora a perda de peso não é necessária para o benefício, nenhuma intervenção dietética é melhor do que a restrição de carboidratos para perda de peso

Mesmo em pessoas normais, uma dieta lowfat (com restrição de gorduras) tem apresentado piores resultados em relação à perda de peso que as lowcarb.

Alia-se a isto o fato de que em lowcarb não há necessidade de se restringir as calorias ingeridas já que a gordura e as proteínas parecem realizar bem este controle de saciedade.


5. A adesão a dietas pobres em carboidratos em pessoas com diabetes tipo 2 é pelo menos tão boa como a adesão a quaisquer outras intervenções dietéticas e freqüentemente é significativamente melhor

Podemos observar no gráfico abaixo que aqueles que participaram de ensaios clínicos obtiveram maior aderência do que os que tentaram uma dieta lowcarb.



6. A substituição de carboidratos por proteína é geralmente benéfico

Ainda que a grande maioria das dietas lowcarb preconizem que a maior carga de substituição dos carboidratos aconteça pelas gorduras, as dietas em que é a proteína que "substitui" o carboidrato, também conhecidas como HPLCD (High protein, lowcarb diet - alta proteína, baixo carboidrato) comprovaram que são eficazes e seguras no curto prazo.

As dietas com restrição de carboidratos foram associadas a reduções significativas no peso corporal, índice de massa corporal, níveis de triglicerídeos e pressão arterial; além disso, eles apresentaram melhora em vários outros indicadores metabólicos e lipídicos.


7. Gordura total e saturada provenientes da alimentação não se correlacionam com risco de doença cardiovascular

Muitos estudos foram feitos desde que a hipótese de que os níveis de colesterol tem relação direta com as doenças cardiovasculares em meados do século passado.

Nota particular: Esta relação já se encontra bem evidenciada na literatura científica.


8. Ácidos graxos saturados no plasma são controlados mais pelos carboidratos na dieta do que pelos lipídios na dieta

Neste ponto o que mais chama a atenção é que a argumentação de alguns "defensores" das dietas de baixa gordura (atualmente em vigor nos modelos de saúde/nutrição no ocidente) são a de que este comportamento acontece nos ratos; ainda que inúmeros artigos venham tentando repetir esta associação em humanos, o que até hoje não foi conseguido.

Nota particular: Neste ponto específico chega a ser engraçada a preocupação dos advogados do lowfat, de que nos modelos de testes com ratos esta correlação seja tão verdadeira. Mas a falácia fica evidente, para não dizer suspeita, quando após inúmeras tentativas sequer conseguiram repetir o resultado dos "ratos" no homem.


9. O melhor indicador de complicações microvasculares e, em menor grau, macrovasculares em pacientes com diabetes tipo 2, é o controlo glicémico ( HbA1c )

O gráfico abaixo apresenta os resultados de complicações micro e macrovasculares em relação à concentração da hemoglobina glisosilada. Podemos observar que no caso das macro (infarto do miocárdio), uma redução de 14% no risco de infarto para CADA 1% de redução no HbA1c. No caso de complicações microvasculares, a redução é da ordem de 37% para CADA 1% de redução na hemoglobina glicosilada.

Em suma, se você reduzir seu HbA1c em 3% você praticamente elimina o risco cardíaco em 40% e as complicações microvasculares em mais de 80%.



10. A restrição dietética de hidratos de carbono é o método mais eficaz (exceto a fome) na redução de triglicerídeos no soro e aumento da lipoproteína de alta densidade HDL

Uma dieta lowcarb não só reduz o peso, a hemoglobina glicosilada, a glicose sanguínea, o colesterol total e os triglicerídeos como AUMENTA o HDL (o colesterol bom). Quanto ao aumento de LDL, esta partícula tem as suas subclassificações; o que se observa é que o risco cardíaco está melhor predito quanto à relação Colesterol Total / HDL (1) e Triglicerídeos / HDL (1).


Nota particular: Se quiser obter mais informação sobre os tipos de LDL e sua influência no risco cardíaco sugiro a leitura de: Small dense low-density lipoprotein-cholesterol concentrations predict risk for coronary heart disease: the Atherosclerosis Risk In Communities (ARIC) study


11. Os pacientes com diabetes tipo 2 em dietas de restrição de carboidratos frequentemente reduzem ou eliminam a medicação. Pessoas com diabetes tipo 1 geralmente precisam de menos insulina

Os autores chamam a atenção de que a redução da medicação com a redução concomitante dos sintomas são considerados sinais de sua eficácia.

Nota particular: Sugiro a leitura do artigo A randomized pilot trial of a moderate carbohydrate diet compared to a very low carbohydrate diet in overweight or obese individuals with type 2 diabetes mellitus or prediabetes


12. A redução drástica da glicose na dieta lowcarb não tem efeitos secundários comparáveis aos efeitos do tratamento farmacológico intensivo

O estudo Effects of intensive glucose lowering in type 2 diabetes mostrou que uma tratamento intensivo (utilizando drogas) na regulação da hemoglobina glicosilada causou mais mortes que no grupo que passou pelo tratamento comum (padrão). Após 3 anos e meio o estudo foi terminado devido ao sensível aumento nas mortes por complicações cardiovasculares.



Discussão

Os autores chamam a atenção para uma reavaliação nas recomendações quanto à dieta devido a alguns fatores:

1. Contínua falha para deter a epidemia de diabetes sob os parâmetros atuais;
2. A falha específica de dietas de baixa gordura para melhorar a obesidade, risco cardiovascular, ou a saúde geral;
3. Constantes relatórios de efeitos colaterais dos medicamentos para a diabetes comumente prescritos, sendo alguns bastante graves;
4. O contínuo sucesso das dietas lowcarb para enfrentar os desafios de melhoria nas características de diabetes e síndrome metabólica na ausência de efeitos colaterais.

Além disso os benefícios de uma dieta lowcarb são imediatos e bem documentados.

Se a substituição do carboidrato se dará por gordura ou proteína não é um fator preocupante já que ambas se mostraram saciantes e algumas restrições quanto a maior substituição advinda da proteína recairia apenas para os que tem doenças renais*.
* Nota particular: Que não sejam influenciadas pela elevada taxa de insulina sanguínea, que em lowcarb é regulada.

Uma dieta lowcarb foi utilizada pelo homem por pelo menos dezenas de milhares de anos. Os pacientes com diabetes deveriam ser estimulados a utilizar desta dieta para controlar sua glicemia !



Conclusão e recomendações

Nota particular: Por ser de forte argumentação, objetivo e simples, reproduzo esta seção do artigo de forma integral. Me desculpem pelas falhas na tradução tanto desta seção como dos demais textos do artigo; correções serão bem vindas.

"Que evidências seriam exigidas para se alterar as recomendações atuais para o tratamento dietético em diabetes ? A medicina baseada em evidências tende a enfatizar os ECR (Ensaios Customizados Randomizados) como padrão-ouro. Tais requisitos absolutos, no entanto, são desconhecidos em qualquer disciplina científica. Como em um tribunal de justiça, a ciência admite qualquer evidência que é relevante. Seguindo a analogia legal, tem de se perguntar: Quem decide sobre a admissibilidade das provas ? A paródia de Smith e Pell (Parachute use to prevent death and major trauma related to gravitational challenge: systematic review of randomised controlled trials) tem sido descrito como engraçado e profundo para ilustrar como não existe um único tipo de experiência que se encaixa a cada questão científica. Dado o estado atual do financiamento da investigação e do viés palpável em relação às abordagens lowcarb, é pouco provável que um ECR possa ser executado de forma a satisfazer a todos. A gravidade do diabetes sugere que temos provas suficientes de diferentes tipos para reavaliar nossas recomendações atuais para seu tratamento.

Esta avaliação descreveu 12 pontos de evidências baseadas em estudos clínicos e experimentais publicados e da experiência dos autores. Os pontos são suportados por princípios estabelecidos na bioquímica e fisiologia e enfatizam que os benefícios são imediatos e documentados, enquanto as preocupações sobre o risco são conjecturais e no longo prazo.

Nós recomendamos que as agências governamentais ou privadas de saúde realizem audiências abertas sobre estas questões em que os pesquisadores lowcarb possam apresentar seus dados. Nós pensamos que as características tradicionais da análise de evidências, como vigorosos exames cruzados (cross-examination) devam ser parte do processo. Sugerimos que um debate aberto com a contribuição de todas as partes será valioso. A gravidade do diabetes sugere que ignorar estas evidências seria inadequado."





Minhas considerações particulares

O artigo faz referência a muitos dos principais estudos que embasaram os fundamentos do lowcarb como dieta; há farta documentação de cada uma das evidências e os desdobramentos possíveis para análises são inúmeros. Se você acha o assunto interessante ou se quer encontrar falhas na proposta lowcarb, este deve ser um dos artigos por onde começar.

Acreditar, confiar ou não conseguir entender estas evidências pode ser admissível, mas não mais deixar que uma falha de análise crítica continue perpetuando as epidemias de obesidade que tem não só tirado a qualidade de vida de muitos brasileiros como também ceifado suas vidas. Como os autores argumentaram no resumo: "Os 12 pontos são suficientemente convincentes de que nós sentimos que o ônus da prova recai agora sobre aqueles que se opõem à esta orientação nutricional."

Não afirmo que esta é a solução final para as epidemias de obesidade, diabetes, hipertensão e outras doenças modernas, mas não podemos mais ignorar as evidências que apontam para uma retomada à dieta que nos trouxe (evolutivamente falando) aonde estamos hoje, nem que seja para reverter o quadro de diabetes que observamos sem precedentes em nossa sociedade !

Meu desejo mais íntimo é que a nossa raça possa retomar a SAÚDE TOTAL, e nada melhor que aqueles que juraram colocar a saúde do outro acima dos seus valores pessoais questionarem o cenário que hoje observamos nos últimos 50 anos em nossa população !

Se você encara a proposta lowcarb como apenas uma opção para a perda de peso, digo que você está pensando muito pequeno, porque a proposta parece ser o melhor caminho para se ter uma qualidade de vida como nunca antes tivemos na humanidade. Aliar SAÚDE TOTAL com os avanços que temos hoje na medicina e na atividade física são realmente sem precedentes em nossa história !




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