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Programa Bem Estar 07/09/15 - Alguns comentários
Nesta segunda-feira (07/09/15 - Feriado) resolvi deixar o celular e o computador desligado e curtir o dia com minha família. À noite quando cheguei em casa liguei o celular para ajustar o alarme e poder acordar na terça-feira. Então me deparei com diferentes mensagens falando sobre o programa Bem Estar da Rede que tratou sobre dietas da moda.
Resolvi assistir o programa (link) e também escrever alguma coisa sobre o que foi dito.
Dieta Frutariana
Essa dieta é um dos ramos do vegetarianismo e recomenda somente a ingestão de frutas. Os especialistas convidados (Endocrinologista e Nutricionista) disseram que:
“O frutarianismo também não é uma boa opção. Comer somente fruta não promove saciedade e não traz todos os macronutrientes fundamentais para o corpo. As frutas não têm proteína e precisamos ingerir por dia entre 10% a 15% das calorias só de proteína. Deixar de comer proteína causa falta de vitamina B12, que só está presente nas carnes, além de ferro, zinco, ômegas e cálcio. A dieta sem proteína pode ser muito prejudicial, podendo causar sarcopenia, que significa redução de músculo. A sarcopenia pode levar a um quadro de demência, diabetes e causar quedas.”
Bem com essa opinião eu tenho que concordar. Os critérios evolutivos me levam a considerar a ingestão de carne e gordura como um pono importante para nossa saúde. Sobre os motivos de eu não ser vegetariano ou frutariano já escrevi anteriormente, se você quiser ler a postagem Motivos pelos quais eu sou onívoro e não vegetariano clique aqui.
Outro ponto importante é que essas dietas podem levar a uma ingestão muito alta de frutose. Se você quiser saber mais sobre o que as pesquisas científicas dizem sobre frutose e saúde leia o excelente artigo da Dr. Georgia Ede chamado “Is Fructose Bad For You? A Summary of the Research”.
Dietas com Restrição Calórica
Sobre esse tipo de dieta vou sugerir a leitura de um artigo escrito por Gary Taubes com o título “Diet Advice That Ignores Hunger”. Se você preferir ler tradução clique aqui. Esse artigo explica o motivo pelo qual dietas onde a restrição calórica necessita ser voluntária não são efetivas para o emagrecimento e seus prejuízos para a saúde.
Porém é importante ressaltar que dietas com restrição de carboidratos e aumento da ingestão de proteínas e gorduras levam a uma restrição calórica involuntária. Isso faz com que elas sejam mais efetivas para perda de peso, como você pode ler no texto chamado “Low-Carb vs. Low-Fat — What Does Research Show?”. Neste artigo você vai encontrar a relação de 14 estudos científicos que mostram que a restrição de carboidratos é mais efetiva para o emagrecimento.
Para concluir, por hora, o tema restrição calórica e sua função no emagrecimento apresento o resumo de um trabalho realizado em 1999 com o título “Calorie restriction is more effective for obesity treatment than dietary fat restriction”.
Este trabalho teve como objetivo determinar se uma dieta restrição de gordura (DRG) seria mais favorável para as mudanças no peso corporal, composição corporal, taxa metabólica de repouso (RMR), comportamento alimentar e adesão à dieta do que uma dieta com restrição calórica (DRC). Para isso 65 mulheres e 15 homens, todos obesos, foram recrutados e divididos aleatoriamente em uma DRC (1000-1200 kcal/dia) ou uma DRG (22-26 g/dia). Os indivíduos participaram de um programa de 24 semanas de perda de peso. Quarenta e oito pacientes completaram avaliações no inicio do estudo e após 6, 12 e 18 meses.
A perda de peso foi maior na DRC (-11,2kg) do que na DRG (-6,1 kg) e isso sem manteve nas avaliações após 18 meses. Os indivíduos da DRC consumiram significativamente menos calorias, menos carboidratos, porém a mesma quantidade de gordura daqueles da DRG. Não houve diferenças em longo prazo na adesão a deita.
Os resultados mostram que a restrição de gordura na dieta não é superior à restrição calórica e que certo grau de restrição calórica, principalmente involuntária, irá colaborar para o emagrecimento.
Dieta Paleolítica
Antes de falar sobre o que foi dito sobre a dieta paleolítica gostaria de ressaltar duas coisas.
Primeiramente que a Abordagem Evolutiva que prego considera analisar como nossa espécie evoluiu usar os aspectos de estilo de vida do período evolutivo com ponto de partida para determinar as “melhores” práticas para o condicionamento físico e saúde (já que somos uma espécie de sucesso evolutivo). Para avaliar se estas práticas são as “melhores” devemos usar a Ciência Baseada em Evidência, por essas razões prefiro o termo Dieta Evolutiva (clique aqui para conhecer as recomendações evolutivas sobre alimentação) a Dieta Paleolítica. Mas achei importante tecer alguns comentários, pois sem dúvida minha abordagem de dieta evolutiva tem muito em comum com a dieta paleolítica.
Por último gostaria de frisar que um dos maiores pesquisadores no tema dieta paleolítica é o Dr. Loren Cordain. Ele tem mais de 60 trabalhos científicos publicados sobre o tema alimentação, exercício e saúde. E que qualquer avaliação sobre esse estilo de alimentação ou daquelas que são semelhantes que não considere seu trabalho irá incorrer em erros.
Feitas essas duas colocações vamos aos comentários.
Dieta paleo é sem carboidratos.
Foi dito no programa que a dieta paleolítica é uma dieta sem carboidratos, porém isso não é verdade. Em 2000 Cordain e colaboradores definiram que a dieta que representava a dieta do período paleolítico é a mesma que as populações de caçadores coletores atuais utilizam.
Eles constataram que em relação aos macros nutrientes essa dieta é composta de 19-35% de carboidratos, 22-40% de gordura e o restante de proteína. Se você quiser ver um detalhamento destes valores clique aqui. Assim podemos dizer que a dieta paleo não é uma dieta sem carboidratos, ela é uma dieta com menor ingestão de carboidratos e também tem carboidratos originados em alimentos diferentes dos alimentos industrializados ricos em carboidratos e açúcar.
Dieta paleo gera perda de massa muscular.
A explicação dada no programa tem “aura” de verdade, pois além de ser apresentada por um Endocrinologista também teve um excelente recurso audiovisual. Porém o que a ciência baseada em evidência fala sobre isso?
Um trabalho muito interessante foi publicado em 2006 em um importante periódico de nutrição chamado American Journal of Clinical Nutrition (link).
Este trabalho teve o objetivo era usar uma meta-regressão para determinar os efeitos da variação na ingestão de proteína e carboidratos sobre a massa e composição corporal durante a restrição energética. Um total de 87 estudos, incluindo 165 grupos de intervenção preencheram os critérios de inclusão, ou seja, os resultados e conclusões que serão apresentados não foram baseados em um ou dois estudos e sim em oitenta e sete.
Os resultados mostraram que as dietas com 40% ou menos de carboidratos geraram maior perda de peso, maior perda percentual de gordura e maior perda de gordura em quilos do que dietas com mais de 40% de carboidratos. As dietas com uma maior ingestão de proteínas (igual ou maior do que 1g/kg de peso corporal) foram associadas com maior retenção de massa corporal livre de gordura.
Os autores concluíram que dietas com baixa quantidade de carboidratos e maior ingestão de proteínas afetam favoravelmente a massa e composição independente da ingestão de energia, o que, em parte, apoia a vantagem metabólica proposta de estas dietas.
A perda de massa muscular e/ou massa corporal livre de gordura é uma alteração que pode acontecer com diferentes tipos de dietas. Quando fazendo uma dieta o mais importante para evitar a perda de massa corporal magra é a combinação de dieta e exercícios, principalmente exercícios de força como demonstraram Kramer e colaboradores em 1999.
Do ponto de vista evolutivo (Método Evolutivo) isso faz bastante sentido já que essa abordagem considera que qualquer tipo de objetivo ligado com a saúde e o condicionamento físico são resultado da combinação da alimentação, atividade física e repouso.
Dieta paleo e ingestão de alimentos crus.
No programa eles mostraram uma matéria sobre uma pessoa que usa a dieta paleo e também ingere alimentos crus. Se você pesquisar sobre dieta paleo (para isso clique aqui, aqui e aqui) terá dificuldade de encontrar a recomendação de ingerir alimentos crus.
A ingestão de alimentos sem cozimento é uma estilo de alimentação chamado de crudismo, onde os alimentos nunca são aquecidos em temperaturas superiores a 40 graus, para saber mais clique aqui.
Na maioria das vezes ele está relacionado com o estilo de alimentação vegetariana (link) e vegana (link), mas também pode envolver hábitos onívoros como comer carne (link). Esse estilo de alimentação não pode ser considerado uma característica da dieta paleo e nem tampouco isenta de risco.
Histórico recente do "Bem Estar"
No dia 14/08 se você tivesse acessado o site do programa Bem Estar do Rede Globo teria visto a seguinte manchete:
Reduzir gordura na dieta é mais eficaz do que reduzir carboidrato, diz estudo
Estudo comparou impacto dos 2 tipos de dieta na perda de gordura corporal.Resultado derruba mito de que reduzir carboidrato seria mais eficaz
A manchete é clara! Se você quer reduzir a gordura corporal é melhor reduzir a quantidade de gordura do que a quantidade de carboidratos de sua dieta.
Essa é a recomendação da maioria dos nutricionistas para aqueles que desejam emagrecer. Já faz algum tempo que eu venho sugerindo que o emagrecimento é mais efetivo se houver uma redução dos carboidratos e não das gorduras. Escrevi sobre esse tema em diversas outras postagens.
Bem! Se o melhor é uma dieta com redução das gorduras e é um "mito" que as dietas com redução de carboidratos são melhores para emagrecer, como tem sido recomendado e o estudo mostrado anteriormente "decretou". Por qual motivo hoje no Brasil quase 60% da população adulta apresenta sobrepeso e mais de 20% são obesos? Clique aqui e leia um excelente texto sobre isso.
Existe um paradigma da nutrição e da saúde de que a gordura é um problema para a saúde, porém esse paradigma não é correto (clique aqui e aqui para saber mais). Esse paradigma equivocado aliado as manchetes sobre ciência sem a interpretação correta dos dados apresentado por determinado estudo são também "causas" do aumento da obesidade e sobrepeso no Brasil!
Não é prioritário exigir dos órgãos de imprensa uma interpretação adequada dos dados científicos e consequente formulação de manchetes "mais corretas". É prioritário sim, exigir das entidades da área saúde a divulgação de informações cientificamente adequadas.
Recentemente houve um "debate" nas redes sociais sobre o óleo de coco depois uma reportagem também divulgada pela Rede Globo (clique aqui para assistir). Sobre o óleo de coco eu já havia escrito uma postagem em Junho de 2014. Esta postagem citava estudos onde a gordura saturada não representou um problema para saúde. Posição como essa você encontrará se ler textos de outros autores, para isso clique aqui.
Outra vez, o prioritário é que entidades da área da saúde divulguem informações corretas. Para exemplificar como as recomendações "oficiais" dos especialistas podem gerar "problemas" cito o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre o Óleo de Coco.
Neste posicionamento é informado que a entidade não recomenda o utilização do óleo coco pois ele possui elevados índices de gordura saturada, tem potencial inflamatório e assim aumenta o risco cardiovascular.
Considerando evidências cientificas importantes essas afirmações da SBEM não possuem embasamento. Entidades importante de outros países, ao analisar o tema gordura saturada e as evidências cientificas, não chegam a mesma conclusão (para saber mais clique aqui). As entidades citadas são:
- UpToDate
- Academy Nutrition and Dietetics
- The American Journal of Clinical Nutrition
- Medscape/British Medical Journal
- Open Heart
Para finalizar!
Minha intenção com essa postagem é somente de esclarecer alguns pontos levantados pelas reportagens citadas e assim mostrar o outro lado de algumas informações divulgadas por esse influente órgão de imprensa nacional. Que no que tange os pontos citados comete equívocos.
Carlinhos
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