É fundamental ter em mente que nosso corpo não sabe que estamos em 2015 e queremos emagrecer para o próximo Carnaval. Anatomicamente, somos os mesmos (Homo sapiens) há cerca de 200 mil anos (Bradshaw, 1997) e a parte do DNA ligada ao metabolismo não muda há 50 mil anos (Vigilant, 1991).
Como mostrei no post anterior, durante o exercício aeróbio de longa duração, queima-se prioritariamente gordura. Agora vem a chave da questão! Quando realizamos momentos de atividade em alta intensidade intercalados por breves intervalos (HIIT), queimamos carboidratos. Quando realizamos musculação, queimamos proteínas contráteis, ou seja, MÚSCULO!
A pergunta que faço é: qual atividade é amplamente recomendada para o aumento da massa muscular? R.: Musculação. Mas prof, vc não acabou de falar que ela queima músculo durante a sessão? Sim, mas APÓS o treino começa um processo de recuperação e supercompensação (alteração na síntese proteica), de modo que o organismo irá aumentar gradativamente sua massa muscular a cada treino. Isso acontece porque o corpo "entendeu" que é de músculo que você precisa para levantar peso (musculação). O mesmo acontece com o aeróbio. Você usa gordura para sustentar esta atividade, certo? Após a atividade, o organismo irá direcionar seus esforços para repor o que utilizou e ainda te dar um pouquinho a mais. Duvida deste efeito com o aeróbio? Veja!
O estudo de Kump e Booth (2005) em ratos mostrou que 10h após a realização de atividade aeróbia, os ratinhos tinham sintetizado 79% a mais de gordura para armazenamento do que os que não realizaram a atividade. Mais ainda, 53h depois do exercício, a formação de tecido adiposo foi 5 vezes maior nos animais que fizeram a atividade aeróbia quando comparados com os sedentários!
Diversos experimentos como de Craig et al. (1983), Lambert et al. (1994), Kump et al. (2006) entre outros, verificaram aumento significativo nas reservas de gordura, evidenciando a supercompensação deste substrato.
Portanto, com base no raciocínio de catabolismo e supercompensação exposto por Gentil (2014) e nas evidências científicas, o objetivo de um treino de emagrecimento deve ser "enganar" o organismo, utilizando proteínas (musculação) e carboidratos (HIIT) em treinos curtos e intensos, atacando assim o mínimo possível de gordura DURANTE o treinamento, passando a seguinte mensagem para o organismo: preciso de músculos e glicogênio, dispense o excesso de gordura pois não a utilizo.
Felipe
BRADSHAW, J. L. Human evolution: a neuropsychological perspective, 1997.
CRAIG, B. W.; THOMPSON, K.; HOLLOSZY, J. O. Effects of stopping training on size and response to insulin of fat cells in female rats. Journal of Applied Physiology, v. 54, n. 2, p. 571-575, 1983.
KUMP, D. S.; BOOTH, F. W. Sustained rise in triacylglycerol synthesis and increased epidydimal fat mass when rats cease voluntary wheel running. Journal of Physiology, v. 565, n. pt 3, p. 911-925, 2005.
KUMP, D. S.; LAYE, M. J. BOOTH, F. W. Increased mitochondrial glycerol-3-phosphate acyltransferase protein and enzyme activity in rat epididymal fat upon cessation of wheel running. American Journal of Endocrinology and Metabolism, v. 290, n. 3, p. E480-489, 2006.
LAMBERT, E. V. et al. Enhanced adipose tissue lipoprotein lipase activity in detrained rats: independent of changes in food intake. Journal of Applied Physiology, v. 77, n. 6, p. 2564-2571, 1994.
VIGILANT, L. et al. African populations and the evolution of human mitochondrial DNA. Science, v. 253, n. 5027, p. 1503-1507, 1991.