Exercício, Estilo de Vida, Família e Trabalho.
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Exercício, Estilo de Vida, Família e Trabalho.


Exercício, Estilo de Vida, Família e Trabalho.

Posso dizer que nos últimos anos, principalmente depois do nascimento do meu primeiro filho, além de ser Professor de Educação Física sou também um fervoroso adepto de um estilo de vida “saudável”, onde pratico exercícios, procuro me alimentar bem e dou a atenção devida ao sono e ao controle de estresse. Devido a isso algumas vezes sou chamado de egoísta, pois em certas situações coloco isso como prioridade.


Para muitas pessoas colocar o exercício ou outro hábito de um determinado estilo de vida em primeiro lugar é uma ação egoísta. Mas talvez pudéssemos dizer a mesma coisa daqueles que colocam o trabalho ou outra atividade como prioridade. Porém acredito que possamos achar um ponto de equilíbrio.

Sem dúvida alguma o exercício e outros hábitos de vida são benéficos para nós no trabalho. O trabalho é uma forma de melhorar a si mesmo assim como um programa de exercícios pode aprimorar a nossa carreira profissional. Manter nosso organismo saudável através da prática de exercícios pode nos ajudar a aumentar a produtividade no trabalho, melhorar nossos relacionamentos e de forma geral melhorar nossa vida.

A prática de exercícios com objetivos estéticos pode ser gratificante no curto prazo, porém isso não irá nos transformar em melhores trabalhadores, pais ou companheiros. Dessa forma para determinar se colocar o exercício, a alimentação ou o descanso em primeiro lugar é uma ação egoísta se torna uma tarefa complexa.

Considerando os padrões culturais atuais, se alguém trabalha mais horas será aplaudido, mesmo que esteja ficando menos tempo com a família. Mas se alguém passar alguns minutos a mais por semana praticando exercícios isso não será visto com os mesmos olhos.

Como o nosso tempo em um dia ou semana é finito, alcançar o equilíbrio é difícil. Mesmo com os avanços tecnológicos, um dia continua tendo 24 horas e uma semana 7 dias. Por isso para muitas pessoas encontrar tempo para o trabalho, para a família e para o exercício ou outros hábitos saudáveis é uma tarefa árdua.

Talvez uma das soluções para isso esteja na análise da qualidade do tempo gasto com nossas atividades diárias. O simples fato de estar com nossos filhos não nos torna melhores pais, o simples fato de estarmos com nossos(as) companheiros(as) não nos torna melhores maridos ou esposas. Se vamos ser bons pais ou companheiros irá depender muito do que fazemos quando estamos com nossos familiares, ou seja, da qualidade do que fazemos nesse período.

Assim, a quantidade de tempo gasta com o exercício ou atividade física não é o ponto mais importante, a qualidade do treinamento que fazemos é o que irá determinar se alcançaremos um bom nível de aptidão física, saúde ou bem-estar. Se fizermos exercício em demasia lesões podem ocorrer, se fizermos de menos os resultados não serão alcançados. 

Mesmo que não possamos concluir se colocar o exercício em primeiro lugar é uma ação egoísta ou não o fato é que o exercício pode melhorar tanto sua vida profissional e quanto a familiar. Em 2008 pesquisadores do Reino Unido fizeram um trabalho [1] com proposta de avaliar a influência do exercício sobre o estado de humor no trabalho através de questionários. Foram escolhidas duas empresas privadas e uma pública com atividades predominantemente sedentárias, dois questionários foram fornecidos. Ao final do trabalho foram entrevistados 201 empregados (67% mulheres e idade média de 38 anos) o humor e a produtividade foram melhores nos dias em que os empregados praticavam exercícios.  Os autores concluíram que o exercício pode melhorar o humor dos trabalhadores e o desempenho nos dias em que eles se exercitam em comparação aos dias que não o fazem. Eles também mostraram que existem claras implicações não só para o bem-estar dos funcionários, mas também uma vantagem competitiva e motivacional quando o exercício faz parte da rotina.

Efeitos positivos do exercício sobre trabalhadores também estão relacionados com fatores de estresse e depressão, em 2012 as pesquisadoras Sharon Toker e Michal Biron publicaram os resultados de um estudo [2] onde mostraram que atividade física atenuada estes efeitos negativos do estresse no trabalho e também os sinais de depressão.


Muitas vezes quando conseguimos organizar nosso tempo para fazer exercício e não ser demitido do trabalho acabamos nos sentindo culpados, pois poderíamos usar esse tempo para estar com a família e os amigos. Em relação à família podemos considerar nossa saúde como um dos bens mais preciosos, dessa forma melhorar nosso condicionamento físico é sim um objetivo “nobre” e pode gerar uma influência positiva sobre a saúde de nossos familiares. Em 2014 a revista Pediatricspublicou um trabalho [3] que após avaliar o nível de atividade física de 554 crianças com 4 anos de idade concluiu existir uma correlação direta entre o nível de atividade física das mães e seus filhos. Ou seja, quanto menos ativas fisicamente eram as mães, mais provavelmente os filhos iriam ser tornar sedentários no início da vida.

A participação em programas de exercício não precisa necessariamente algo que nos exclui da convivência com nossos familiares. As famílias podem se exercitar em grupo e encontrar atividades coletivas que melhoram os relacionamentos. Mesmo que não seja possível fazer exercícios em família é importante que organizemos nossa rotina para propiciar que os outros membros da família possam ter seu tempo para o exercício. Nessa situação o marido ou a esposa podem ter períodos em que um deles fica com os filhos propiciando ao outro o tempo necessário para o exercício. É importante que tenhamos na nossa rotina o tempo para que as crianças se exercitem, onde ocorra nossa participação. Como quando os pais se organizam para levar as crianças para a natação, judô ou dança.

A alimentação e os períodos de sono também devem ser organizados de forma coletiva na família. Refeições em família tornam muito mais fácil criar nas crianças hábitos saudáveis de alimentação. De forma regular os pais devem servir de exemplo quanto ao período e horário do sono.

Enfim, atualmente é difícil manter um estilo de vida que esteja de acordo com as “expectativas” do nosso organismo e dessa forma alcançar  saúde e condicionamento físico. E sem dúvida fazer isso de forma integrada com a família é ainda mais difícil, mas devido a importância do exercício, alimentação e repouso devemos dedicar esforços nesse sentido.

Carlinhos

Referências
  1. Coulson JC, et al. 2008. Exercising at work and self‐reported work performance.
  2. Toker S, Biron M. 20120. Job Burnout and Depression: Unraveling Their Temporal Relationship and Considering the Role of Physical Activity.
  3. Kathryn R, et al. 2014. Activity Levels in Mothers and Their Preschool Children.




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