“Algumas palavras sobre diabetes” – Parte 2
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“Algumas palavras sobre diabetes” – Parte 2


Exercício e Diabetes

Na primeira parte desta postagem escrevi sobre as recomendações tradicionais feitas para as pessoa com diabetes, principalmente o diabetes tipo 2. O principal tema da postagem anterior foi a alimentação e mostrei as evidências científicas que sustentam uma alimentação baseada em comida de verdade e com redução da ingestão de carboidratos. Nesta segunda parte minha intenção é “dizer algumas palavras” sobre o diabetes e o exercício.


Nos últimos anos avanços científicos tem aumentado nosso entendimento dos efeitos do exercício sobre o metabolismo da glicose e sua consequente influência sobre o diabetes e os riscos associados.

O estilo da vida contemporâneo resultou em uma redução generalizada das atividades físicas, atividades essas que foram substituídas por um excesso de comportamentos sedentários. Isso nos leva a recomendação de que os diabéticos e as pessoas saudáveis deveriam “sentar menos e caminhar mais” [1].

Estudos observacionais demonstraram que diabéticos de ambos os sexos com capacidade cardiovascular reduzida e baixos níveis de atividade física apresentam aumento do risco de doenças cardiovasculares e de mortalidade [2,3].

A American Diabetes Association [4] recomenda que para melhorar o controle glicêmico, auxiliar com a manutenção do peso e reduzir risco de doenças cardiovasculares, sejam realizados pelo menos 150 minutos por semana de exercícios aeróbicos de intensidade moderada [50-70% da frequência cardíaca máxima] ou, pelo menos, 90 minutos por semana de exercícios aeróbicos mais intensos [mais de 70% da frequência cardíaca máxima].

Uma fator importante do exercício que esta associado com a diminuição do risco de desenvolvimento de diabetes, com a melhora do metabolismo da glicose das pessoas já diagnosticadas e também com a diminuição da quantidade de medicação utilizada é a capacidade do exercício aeróbico em diminuir a resistência à insulina [5-10]. É importante frisar que alterações na resistência à insulina podem ser geradas pelo exercício aeróbico até mesmo em indivíduos octogenários [8].

Como citado anteriormente, as adaptações geradas pelo exercício aeróbico que são positivas para os diabéticos seriam possíveis com um volume [quantidade de exercício/tempo de exercício] que varia de 90 a 150 minutos por semana. A intensidade [quantidade de esforço] pode ser moderada [volumes maiores de exercício] ou mais intensa [volumes menores de exercício].

Uma pergunta que cabe nesse momento, é, seria melhor seria fazer menos tempo de forma mais intensa ou mais tempo com intensidade menor? Parece que a duração/volume é mais importante do que a intensidade do exercício, em um estudo experimental randomizado [9] portadores de diabetes tipo 2 [média de 51 anos] foram divididos em dois grupos. Um de baixa intensidade [50% da capacidade aeróbica máxima] e maior volume [50min/sessão] e outro de alta intensidade [75% da capacidade aeróbica máxima] e baixo volume [30min/sessão]. A resistência à insulina foi mensurada através de um teste de oral de tolerância a glicose. Os resultados demonstraram que as alterações na sensibilidade a insulina dos pacientes com diabetes tipos 2 dependem mais do volume do que da intensidade do exercício. O mesmo tipo de conclusão foi apresentada em outros dois estudos experimentais randomizados [6,7].
Uma questão importante que deve ser citada sobre o tema volume e intensidade é que nenhum dos três trabalhos citados no parágrafo anterior [6,7,9] relatou algum tipo de controle alimentar durante a duração dos estudos. Isso pode ser um ponto importante, pois atualmente sabemos que dietas com menores quantidades de carboidratos [lowcarb] são mais eficientes do que outros tipos de dietas para que alterações positivas relacionadas com o diabetes sejam alcançadas [11-15]. Podemos levantar a hipótese de que se o exercício fosse associado a uma dieta lowcarb, talvez os resultados comparando diferentes protocolos de exercícios em relação ao volume e intensidade fossem diferentes. Isso é possível já que as dietas lowcarb são capazes de reduzir a hemoglobina glicada [11], reduzir a quantidade de medicação [13], diminuir o risco cardiovascular de diabéticos tipos 2 [12] e também melhorar a tolerância a glicose de mulheres não obesas com histórico de diabetes gestacional [14].

Não poderia deixar de falar sobre o treinamento de força [exercícios com pesos, aparelhos ou com o peso corporal], esse tipo de treinamento também é capaz de gerar alterações positivas no controle glicêmico [16,17]. As pessoas com diabetes tipo 2 devem ser encorajados a realizar exercícios de força que incluam todos os principais grupos musculares, progredindo de 1-3 séries de 8-10 repetições[4], no caso de exercícios com peso ou em aparelhos de musculação.

Se considerarmos tanto as informações sobre alimentação [postagem anterior], exercícios aeróbicos e exercícios de força podemos dizer que uma dieta lowcarb baseada em comida de verdade, a realização de um programa de treinamento orientado [incluindo exercícios aeróbicos e de força] e um aumento na quantidade de atividades física diária [“sente-se menos e caminhe mais”] será muito eficiente para a prevenção e tratamento do diabetes. E os benefícios serão possíveis mesmo que você não faça 150 minutos de exercícios aeróbicos por semana, já que todas as alterações positivas geradas pelo exercício podem ser atenuadas quando temos como pano de fundo estilo de vida prejudicial em relação ao controle de estresse, sono e alimentação [1].


Assim podemos concluir que um programa bem orientado de exercícios, uma alimentação adequada e uma vida menos sedentária podem, em conjunto, não somente serem importantes para o diabetes, mas também servirem com meio de prevenção de uma série de doenças crônicas [18].

Carlinhos


Referências
  1. Steps to Preventing Type 2 Diabetes: Exercise, Walk More, or Sit Less? 2012. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3500773/#B18
  2. Low cardiorespiratory fitness and physical inactivity as predictors of mortality in men with type 2 diabetes. 2000.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10766678
  3. Physical activity and risk for cardiovascular events in diabetic women. 2001. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Hu+FB%2C+Stampfer+MJ%2C+Solomon+C%2C+Liu+S%2C+Colditz+GA%2C+Speizer+FE%2C+Willett+WC%2C+Manson+JE%3A+Physical+activity+and+risk+for+cardiovascular+events+in+diabetic+women.Ann+Intern+Med+134%3A96%E2%80%93105%2C+2001
  4. Physical Activity/Exercise and Type 2 Diabetes. 2004.. http://care.diabetesjournals.org/content/27/10/2518.full.pdf+html
  5. Exercise as a therapeutic intervention for the prevention and treatment of insulin resistance. 2004.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15343584
  6. Effect of exercise intensity and volume on persistence of insulin sensitivity during training cessation. 2009.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2698641/
  7. Effect of the volume and intensity of exercise training on insulin sensitivity. 2004. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12972442/
  8. Aerobic power and insulin action improve in response to endurance exercise training in healthy 77-87 yr olds. 2005. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15591302/
  9. Duration of exercise as a key determinant of improvement in insulin sensitivity in type 2 diabetes patients. 2012.https://www.jstage.jst.go.jp/article/tjem/227/4/227_289/_pdf
  10. The effect of 8 weeks aerobic exercise on insulin resistance in type 2 diabetes: a randomized clinical trial. 2014. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25560330
  11. A Randomized Pilot Trial of a Moderate Carbohydrate Diet Compared to a Very Low Carbohydrate Diet in Overweight or Obese Individuals with Type 2 Diabetes Mellitus or Prediabetes. 2014. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0091027
  12. A low carbohydrate Mediterranean diet improves cardiovascular risk factors and diabetes control among overweight patients with type 2 diabetes mellitus: a 1-year prospective randomized intervention study. 2010. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20151996
  13. The effect of a low-carbohydrate, ketogenic diet versus a low-glycemic index diet on glycemic control in type 2 diabetes mellitus. 2008. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19099589
  14. Low glycaemic index diets improve glucose tolerance and body weight in women with previous history of gestational diabetes: a six months randomized trial. 2013. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23705645
  15. Effects of different proportion of carbohydrate in breakfast on postprandial glucose excursion in normal glucose tolerance and impaired glucose regulation subjects. 2013. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23594032
  16. A randomized controlled trial of resistance exercise training to improve glycemic control in older adults with type 2 diabetes. 2002. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Castaneda+C%2C+Layne+JE%2C+Munoz-Orians+L%2C+Gordon+PL%2C+Walsmith+J%2C+Foldvari+M%2C+Roubenoff+R%2C+Tucker+KL%2C+Nelson+ME%3A+A+randomized+controlled+trial+of+resistance+exercise+training+to+improve+glycemic+control+in+older+adults+with+type+2+diabetes.+Diabetes+Care+25%3A2335%E2%80%932341%2C+2002
  17. High-intensity resistance training improves glycemic control in older patients with type 2 diabetes. 2002. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Dunstan+DW%2C+Daly+RM%2C+Owen+N%2C+Jolley+D%2C+de+Courten+M%2C+Shaw+J%2C+Zimett+P%3A+High-intensity+resistance+training+improves+glycemic+control+in+older+patients+with+type+2+diabetes.+Diabetes+Care+25%3A+1729%E2%80%931736%2C+2002
  18. Evidence for prescribing exercise as therapy in chronic disease. 2006. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16451303




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